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The Journal of the Brazilian Society of Cancerology

O estresse ocupacional nas equipes médica e de enfermagem na assistência oncológica do Brasil

INTRODUÇÃO

O câncer é considerado uma doença crônica que mata muito todos os anos e, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a previsão é de 7,6 milhões de pessoas que morrem por ano de câncer no mundo. Em 2019, INCA, órgão ligado ao Ministério da Saúde,2 previa o surgimento de 625 mil novos casos em 2020. Destes, 50,3% deverão ocorrer em homens e 49,7% em mulheres. Ainda segundo o INCA2, 80% a 90% das neo- plasias estão associadas a fatores ambientais.

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desor- denado de células, que invadem tecidos e órgãos, com a capacidade de espalhar para tecidos e órgãos vizinhos ou distantes, conhecida como metástase.1

Câncer pode surgir em qualquer parte do corpo, sendo que alguns órgãos são mais afetados do que outros e há tipos mais comuns em homens e mulhe- res. Nos homens, os tipos de câncer mais comuns são próstata (31,7%), traqueia, brônquio e pulmão (8,7%) e colorretal (8,1%). Nas mulheres os tumores mais co- muns são de mama (29,5%), colorretal (9,4%) e colo do útero (8,1%). Para o Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022, o câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil).2

Além dos dados mencionados, o câncer tem uma representação simbólica e psíquica no imaginário cole- tivo construída e reforçada ao longo da história da pró- pria doença. Envolve crenças, por exemplo, da doença como um castigo e o diagnóstico, em si, é visto, muitas vezes, como receber uma sentença de morte.3

Os tratamentos para o câncer não estão isentos de efeitos adversos, estes podem ser de ordem física, social e/ou emocional como a dor, fadiga, alopecia, náuseas e

vômitos, além das perdas, medos e angústias. Exige esforços de toda a unidade de cuidado para transforma- ção, adaptação, resiliência.3

A oncologia é considerada uma especialidade es- tressante, em que surgem grandes desafios para a equi- pe de saúde pela necessidade de cuidados de alta com- plexidade e pela exposição a uma variedade de fatores estressores.5 Portanto, é importante voltar atenção para os profissionais que atuam neste contexto, uma vez que a literatura indica que sua atividade ocupacional os co- loca em risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout (SB) ou Síndrome do Esgotamento Profissional (SEP) causada pela exposição continuada ao estresse associado, especificamente, ao ambiente de trabalho.

Não somente no Brasil, mas em outros países, tem- -se observado nos últimos anos uma relação de estress ocupacional e saúde mental dos trabalhadores que tem sido preocupante. Esses fatores têm gerado absenteís- mo, incapacidade temporária e aposentadorias preco- ces.6

Trabalhadores da área da saúde estão vulneráveis ao desenvolvimento dessa síndrome em razão de seu contato intenso com o paciente, como também pelo desacordo entre a expectativa profissional e a realidade encontrada. Silva4 reforça que os sentimentos desper- tados nos profissionais de saúde são análogos aos dos pacientes e familiares.

Indivíduos acometidos pela SB experienciam im- pacto em uma ou mais das três dimensões: exaustão emocional, oriunda dos fatores de condições de traba- lho; despersonalização, entendido como distanciamen- to das relações interpessoais, o outro passa a ser visto como objeto e insatisfação profissional, englobado por redução de autoestima, sensação de fracasso. Estas po- dem ser percebidas de forma isolada ou combinadas. A Síndrome ocorre comumente em profissionais que trabalham sobre pressão constante como controlado- res de tráfego aéreo, bombeiros e profissionais da área da saúde.7

Os principais sintomas observados que podem indi- car a Síndrome de Burnout são dor de cabeça frequente, cansaço excessivo mental e físico, insônia, alteração de apetite, dificuldade de concentração, isolamento, pres- são alta, sentimentos de derrota e falta de esperança, alterações de humor e outras. Estes sinais se instalam de forma gradual. Quando identificados precocemente e atendidos, podem ser revertidos completamente.

Para evitar problemas mais sérios e possíveis com- plicações da doença, é importante buscar apoio pro- fissional assim que notar qualquer sinal. É necessário manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas.1

As atividades profissionais que demandam do tra- balhador controle e equilíbrio mental e emocional exi- gem que se compreenda a satisfação profissional do colaborador, uma vez que essa impacta diretamente na qualidade do serviço prestado.8 De acordo com o estu- do, dimensões concretas das condições de trabalho são significativas para a satisfação ou insatisfação do profis- sional de saúde, em especial no atendimento aos pa- cientes oncológicos como, por exemplo, a escassez de recursos humanos e baixa remuneração dada a comple- xidade e demanda que o serviço prestado requer.

Faz-se necessário investir em promoção de saúde para aqueles que prestam assistência direta e diária neste campo, em detrimento da busca desenfreada por produtividade, atentando para as questões referentes ao ambiente de trabalho para que assim tanto os pro- fissionais como as instituições possam oferecer maior qualidade no serviço, uma vez que é percebido que o vínculo estabelecido entre a equipe multiprofissional e o usuário está associado à qualidade da assistência pres- tada.

Ter conhecimento desses dados auxiliam no de- senvolvimento de políticas públicas eficientes para que a população tenha amparo e recursos disponíveis, em

consonância com a necessidade que se apresenta a par- tir de variáveis como região, sexo e idade de incidências. Além disso, verifica-se que é interessante para o meio acadêmico de pesquisa em saúde a análise da produção de conhecimento científico recente que trate da temáti- ca desenvolvida neste trabalho, o acometimento de mé- dicos e enfermeiros que prestam serviços a pacientes oncológicos com a Síndrome de Burnout.

Pretende-se investigar as particularidades relata- das por médicos e enfermeiros que, embora estejam em contato com o mesmo público-alvo, desempenham funções que os colocam em situações de estresse dis- tintas no dia a dia, sendo relevante a análise dos possí- veis fatores de aproximação e distinção entre eles para o desenvolvimento de medidas de proteção e atenção específicas. Diante disto, o estudo irá se desenvolver a partir da seguinte questão norteadora: de que maneira o trabalho na assistência a pacientes oncológicos impac- ta a saúde física e mental das equipes de enfermagem e de médicos, no contexto de saúde brasileira?

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