The Journal of the Brazilian Society of Cancerology

Mixofibrossarcoma cérvico-torácico

Introdução: o mixofibrossarcoma (MFS) é um sarcoma de partes moles, mais comum em membros inferiores e raro na cabeça e no pescoço. A excisão completa com margens amplas é o tratamento preconizado. Objetivo: relatar um caso de MFS acometendo pescoço e tórax, tratado por cirurgia e radioterapia adjuvante. Relato de caso: paciente do sexo feminino, 48 anos de idade, apresentou-se com falta de ar, tosse e inchaço no pescoço, associados a dor em membro superior esquerdo, disfagia e odinofagia, com 7 meses de evolução, tendo sido feita traqueostomia após admissão no hospital. A biópsia incisional foi sugestiva de bócio coloide, e a paciente foi encaminhada para cirurgia com hipótese diagnóstica de bócio mergulhante. Foi feita excisão da lesão, que ocupava espaço retrofaríngeo e mediastino posterior, medindo aproximadamente 30 cm. A paciente recebeu alta após 7 dias. O laudo histopatológico demonstrou sarcoma pleomórfico de baixo grau e ressecção marginal, com diagnóstico imuno-histoquímico de MFS de baixo grau. Foi realizada radioterapia adjuvante, com evolução livre de doença após 14 meses. Conclusão: relata-se um caso de paciente com MFS cérvico-torácico, tratada com cirurgia e radioterapia adjuvante. Ressalta-se a importância do diagnóstico diferencial com bócio mergulhante e da realização de uma primeira ressecção com margens livres e amplas.

Neoplasia de sigmoide e diverticulite sincrônicas em uma hérnia inguinal estrangulada

Justificativa e objetivos: a hérnia inguinal estrangulada é uma das emergências cirúrgicas mais comuns no mundo. O conteúdo do saco herniário limita-se à presença de omento ou de alças intestinais de delgado. Entretanto, estruturas anatômicas menos comuns podem ser encontradas dentro do saco herniário, como neoplasia e diverticulite de sigmoide, raramente ocorrendo de forma sincrônica. Este estudo relata um caso de hérnia inguinal esquerda estrangulada, apresentando, dentro do saco herniário, neoplasia de sigmoide, simultaneamente à doença diverticular dos cólons com diverticulite. Relato de caso: E.N., 76 anos de idade, procurou o serviço de emergência com dor e abaulamento em região inguinal à esquerda há 1 dia, sendo diagnosticada hérnia inguinal estrangulada. Durante a inguinotomia, foi evidenciada presença de cólon sigmoide em saco herniário, apresentando lesão tumoral com isquemia e bloqueio por omento, além de doença diverticular com sinais de diverticulite. Optou-se por ressecção da lesão em sigmoide em bloco por laparotomia e correção da hérnia, pela técnica de Shouldice. O exame anatomopatológico evidenciou adenocarcinoma tubular moderadamente diferenciado, estadiado como pT4;pN0;pMx e classificado, de acordo com Astler-Coller, como B-2 e Dukes B, sem invasão vascular ou linfática. Conclusão: hérnias contendo neoplasia são raras, e a associação de sintomas compatíveis com quadro de neoplasia e diverticulite deve ser questionada em casos de estrangulamento. Não existe ainda propedêutica ou tratamento adequado, sendo a suspeita clínica essencial para o diagnóstico preciso.

Paracoccidioidomicose como diagnóstico diferencial de câncer de pênis

A infecção causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis afeta predominantemente adultos homens, em especial trabalhadores rurais. As manifestações clínicas caracterizam-se por lesões polimórficas que podem acometer qualquer órgão, sendo o pulmão, as mucosas e a pele os sítios mais frequentes. O trato geniturinário é o local mais raro de acometimento. Descreve-se neste artigo um caso de paracoccidioidomicose de glande e prepúcio peniano. Ao considerar a semelhança entre os achados clínicos da infecção por esse fungo e os de neoplasias penianas, conclui-se que paracoccidioidomicose deve ser lembrada como diagnóstico diferencial em patologias que envolvam a genitália externa masculina.

Síndrome do câncer gástrico difuso hereditário: abordagem cirúrgica radical laparoscópica associada à mutação rara do gene CDH1

O câncer gástrico difuso hereditário (CGDH) responde por 1 a 3% dos cânceres gástricos. Essa síndrome se deve a uma mutação herdada do gene CDH1 no cromossomo 16q22.1. O gene CDH1 codifica a proteína E-caderina, que atua na manutenção da adesão intercelular, resultando em potencial menor de metástase e invasividade. O diagnóstico precoce da CGDH é muito importante, pois os pacientes portadores da mutação do CDH1 apresentam células invasivas, pouco diferenciadas e em anel de sinete. O principal tratamento é a cirurgia radical, e a laparoscopia surge como técnica alternativa, com menos comorbidades e resultados oncológicos semelhantes aos da abordagem convencional. Este artigo descreve um caso raro de CGDH com mutação do CDH1. O diagnóstico precoce torna possível a abordagem de cirurgia laparoscópica.

Tricoleucemia infantil: um relato de caso em um hospital filantrópico de Salvador, Bahia

Justificativa: a tricoleucemia é uma doença rara, caracteriza-se pela presença de uma neoplasia de células B maduras, possui imunofenótipo característico e é resistente à terapia convencional. O fármaco com melhor resposta ao tratamento é a cladribina, que atua na síntese do DNA. O quadro clínico inclui esplenomegalia, pancitopenia e linfocitose. Objetivos: descrever caso raro de tricoleucemia variante em paciente adolescente, incluindo evolução e resposta terapêutica à doença, avaliação do tratamento com a cladribina e possíveis reações. Método: relato de caso apresentado por meio de dados descritivos obtidos do prontuário de um paciente e de artigos científicos que abordam a patologia. Conclusão: ainda não é possível concluir que a cladribina possa ser utilizada futuramente como tratamento para remissão da tricoleucemia variante. Todavia, há outras possibilidades para novos tratamentos, como o uso de anticorpos monoclonais e o transplante de medula óssea.

Melanoma maligno em teratoma maduro de ovário: relato de caso e revisão da literatura

Introdução: teratoma maduro consiste em um tumor benigno de células germinativas, podendo dele surgir vários tumores malignos, embora essa transformação seja rara. O melanoma em teratoma maduro de ovário é extremamente incomum, existindo somente 36 casos relatados até o momento. Relato de caso: paciente do sexo feminino, 37 anos, submetida à ooforectomia direita por cisto complexo. O exame anatomopatológi- co diagnosticou “teratoma com carcinoma indiferenciado” e o imuno-histoquímico revelou um melanoma maligno em teratoma. A paciente não foi submetida a tratamento adjuvante, e 3 anos após o diagnóstico encontra-se sem evidência de recidiva. Conclusão: a ocorrência de melanoma em teratoma maduro é extremamente rara e está associada a um pior prognóstico. Os sinais e sintomas, bem como o exame físico, são inespecíficos, e o diagnóstico geralmente dá-se como achado ocasional em exame anatomopatológico. A ressecção cirúrgica é a base do tratamento.

Axillary synovial sarcoma

Sarcoma sinovial (SS) é um sarcoma de células fusiformes com diferenciação
epitelial variável, classificado como bifásico, monofásico ou variante pouco diferenciada, dependendo da proporção e diferenciação dos componentes epiteliais e fusocelulares. O SS é raro, apresentando incidência anual de 0,5-0,7 por milhão. Possui distribuição semelhante entre os gêneros, podendo ocorrer em qualquer idade, porém afeta mais frequentemente adolescentes ou adultos jovens. Apesar do nome, o SS raramente é intrarticular, sendo que a maioria (70%) dos casos surge nos tecidos moles profundos das extremidades, muitas vezes em sítios justarticulares. O objetivo deste trabalho é relatar raríssimo caso de SS acometendo o cavo axilar de adolescente de 16 anos de idade, tratada mediante ressecção ampla e adjuvância com radioterapia e quimioterapia.

Risco de hemorragia cerebral em pacientes portadores de gliomas cerebrais e anticoagulados

INTRODUÇÃO: a população mundial vem apesentando uma melhora na expectativa de vida e associado a este fato está um aumento na prevalência dos tumores em geral, principalmente os cerebrais. Os pacientes com câncer têm maior possibilidade de eventos trombóticos, mas como existe um receio de anticoagular estes pacientes devido à possibilidade de sangramento maciço intracraniano. […]

Divergências entre diferentes especialidades médicas em relação a aferir a pressão arterial no lado tratado em pacientes com câncer de mama

Introdução: A suposta associação causal entre linfedema e constrição com esfigmomanômetro tem sido base para a contraindicação da medida da pressão arterial em pacientes sob tratamento de câncer de mama.
Fatores complicadores dessa situação são a alta incidência da neoplasia de mama
e a desinformação acerca do tópico, a dizer, ausência de recomendações por parte da Diretriz Brasileira de Hipertensão e American Heart Association. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar divergências entre diferentes especialidades médicas em relação a aferição da pressão arterial no lado tratado em pacientes com câncer de mama.
Métodos: Foi feita uma análise semi-estruturada transversal virtual por meio de uma enquete online, intitulada “Aferição da Pressão Arterial em Pacientes sob Tratamento de Câncer de Mama” com 334 participantes, dentre os quais 206 (61,68%) são mastologistas, 72 (21,56%) cardiologistas e 56 (16,76%) são de outras especialidades Todas as análises foram feitas por meio do Teste Qui Quadrado.
Resultados: A maioria dos mastologistas indica a aferição da pressão arterial, exceto após esvaziamento axilar (p<0.001). Todas as demais especialidades contraindicam o procedimento, tanto após esvaziamento axilar, quanto após mastectomia, biópsia de linfonodo sentinela e radioterapia (p<0.001). Discussão: Dados de estudos observacionais sugerem a não maleficência da aferição da pressão arterial em pacientes sob tratamento de câncer de mama. Sendo assim, conclui-se que os mastologistas possuem maior domínio acerca dos riscos e benefícios da aferição da pressão arterial nesse subgrupo de pacientes.