O aumento na expectativa de vida da população mundial permitiu, dentre outros efeitos, o incremento na prevalência de metástases ósseas (MO) de carcinoma e do mieloma múltiplo (MM), patologias que habitualmente acometem a população idosa.1 As fraturas patológicas secundárias a MO ou MM têm se tornado cada vez mais fre- quentes nesta faixa etária, levando à queda do estado geral e imobilismo que, muitas vezes, culmina com o óbito destes pacientes.1
As MO são as lesões ósseas malignas mais frequentes nos idosos,1 e estão asso- ciadas à dor severa e aumento do risco para ocorrência de fraturas patológicas.2 Cons- tituem o resultado da disseminação de tumores que se originam em outros tecidos a partir de êmbolos neoplásicos oriundos das vias hematogênica e linfática ou através de disseminação local, por contiguidade.1,2 Carcinoma é a causa mais comum de câncer ósseo secundário.2-5 O esqueleto constitui terceiro sítio mais comum de disseminação metastática, depois do pulmão e do fígado.2 A maioria das MO são originá- rias da mama, próstata ou pulmão, embora tumores re- nais e da tireoide também possam disseminar através do esqueleto.2-5 O grau de diferenciação celular do tu- mor possui papel na disseminação metastática – a pre- sença de maior anaplasia está associada à maior proba- bilidade de surgimento de MO, em intervalo menor que lesões com maior diferenciação celular.1 O mecanismo de destruição óssea é mediado por osteoclastos, cuja produção é observada na maioria das MO, independen- temente de seu aspecto radiográfico;1 nas fases tardias, ocorre destruição secundária, relacionada a liberação de enzimas osteolíticas, produzidas pelas células tumo- rais.1 O câncer ósseo secundário é constituído por um grande grupo heterogêneo de lesões que podem res- ponder à quimioterapia, radiação ou cirurgia.2,6,7,8,9
O MM constitui neoplasia maligna de origem hema- tológica caracterizada pela proliferação desregulada e clonal de plasmócitos na medula óssea, que produzem e secretam imunoglobulina monoclonal anômala ou um fragmento desta, denominado proteína M.10-17 MM e sua forma localizada, plasmocitoma, são caracterizados pela proliferação descontrolada de plasmócitos, cursando com lesões ósseas difusas em “saca-bocados”, com dis- tribuição mais frequente no esqueleto axial.1,11 É o tumor ósseo maligno primário mais comum (47%) e predomina em indivíduos do gênero masculino (2:1), entre a quinta e a sétima décadas.1 Deve sempre ser incluído no diag- nóstico diferencial de lesões ósseas diagnosticadas em pacientes com mais de 40 anos.1 É duas vezes mais frequente em afrodescendentes, quando comparados aos caucasianos, e menos frequente nas populações asiáticas.11 A destruição óssea é mediada pelos osteo- clastos e não pelas células neoplásicas.10 Os osteoclas- tos acumulam-se apenas nas superfícies reabsortivas adjacentes às células neoplásicas – o número de osteo- clastos não está aumentado nas áreas não envolvidas pelo tumor. Embora a reabsorção óssea no MM esteja aumentada, a formação de osso novo é suprimida, tornando as lesões ósseas puramente líticas.10
O objetivo desta revisão é atualizar o leitor sobre a abordagem ortopédica das MO de carcinoma e do MM.