The Journal of the Brazilian Society of Cancerology

Parotidectomia parcial superficial robótica: Relato de caso e revisão da literatura

REVISÃO DA LITERATURA

As neoplasias das glândulas salivares representam aproximadamente 3% de todos os tumores de cabeça e pescoço, sendo o adenoma pleomórfico o tumor benigno mais frequente, chegando a 35% dos casos1,2. Segundo dados epidemiológicos brasi- leiros sobre neoplasias benignas das glândulas salivares, a parótida também foi o sítio mais frequente (79%), acometendo em sua maioria mulheres com média de idade de 48 anos, variando de 11 a 83 anos3.

A ressecção cirúrgica do tumor, parotidectomia parcial ou total, é o padrão ouro de tratamento. A indicação cirúrgica não mudou ao longo das décadas, porém a téc- nica, o acesso cirúrgico ao de nervo facial e o uso de bisturi harmônico são pautas de debates acadêmicos atuais. Tanto pacientes quanto cirurgiões buscam técnicas menos mórbidas, movidos pelo apelo estético de grupo epidemiológico, da importância dada à imagem pessoal no cenário atual e das inovações no campo da cirurgia minimamente invasiva

Seguindo a tendência bem definida da otorrinolarin- gologia, a cirurgia oncológica de cabeça e pescoço tem apresentado notável progresso com o desenvolvimento de várias modalidades de procedimentos cirúrgicos mi- nimamente invasivos como os videoassistidos endona- sais e a microcirurgia de laringe5,6. Esses procedimentos resultaram em menor morbidade dos procedimentos realizados7.

A cirurgia robótica dentro da cirurgia de cabeça e pescoço veio para preencher essa lacuna como uma fer- ramenta para facilitar o acesso a estruturas delicadas, restritas em espaços limitados comuns nos domínios da especialidade. O acesso transoral para resseções em orofaringe (TORS) foi o primeiro a ser consagrado por gerar melhor controle das margens cirúrgicas e evitar a abordagem tradicional que frequentemente gera gran- de morbidade estética e funcional8. A consagração de acesso no tratamento oncológico trouxe à tona novos questionamentos a respeito de outras abordagens con- vencionais como ao acesso cervical9.

Hoje, o acesso remoto mais utilizado para as cirur- gias cervicais é o retroauricular em que se acessa o es- paço jugulocarotideo através do retalho subplatismal. Utilizado inicialmente em cirurgias videoassitidas e pos- teriormente na cirurgia robótica, principalmente em paí- ses asiáticos para pacientes com propensão a desenvol- ver cicatrizes hipertróficas ou queloides10. Baseando-se na experiência do acesso retroauricular que se mostrou seguro e reprodutível, foi possível aplicá-lo também no tratamento cirúrgico de neoplasias da parótida11.

As primeiras parotidectomias robóticas foram reali- zadas em 2013 e 2014 na Ásia12,13, sendo a experiência relatada como positiva10. Utilizando-se a incisão de face- lifting retroauricular é possível acessar facilmente a pa- rótida e ao associá-lo a tecnologia do sistema robótico Da Vinci, tem-se adequada distinção das estruturas de- vido à visualização tridimensional magnificada do campo operatório e dissecção delicada dos tecido usando as articulações dos braços robóticos, endowrist14. Atual- mente, essa técnica segue sendo mais difundida em paí- ses asiáticos como Japão, Coreia do Sul e China, devido à maior propensão a desenvolver cicatrizes hipertróficas e, consequentemente, maior motivação em evitar uma cicatriz visível10. Na América do Sul, o acesso retroauri- cular tem sido utilizado para esvaziamentos cervicais, ressecções de tumores de glândula submandibular e tireoidectomias, mas não foram realizadas parotidecto- mias robóticas por esse acesso.

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