The Journal of the Brazilian Society of Cancerology

Temozolamida para tumores do sistema nervoso central: revisão bibliográfica e perspectivas

Justificativa e objetivo: esta revisão tem como objetivo avaliar as evidências científicas referentes à
temozolomida no tratamento dos gliomas de alto grau de sistema nervoso central para compreender o real benefício da medicação nesse tipo de neoplasia. Método: foi realizada pesquisa na base de dados
MEDLINE, com busca de palavras na língua inglesa “temozolomide glioblastomas” e “temozolomide high
grade gliomas”. Foram selecionados artigos de relevância clínica assim como alguns artigos de referência
bioquímica. Os resultados dos trabalhos foram citados, sendo feita uma comparação entre eles, assim
como uma análise crítica imparcial dos achados, tendo em vista que não há conflito de interesse dos
autores. Resultados: foram avaliados diversos artigos nas várias etapas de desenvolvimento da medicação, desde sua síntese até os estudos clínicos que padronizaram sua utilização. Fez-se análise desses estudos confrontando com questionamentos próprios e os contidos em trabalhos críticos ao quimioterápico. Conclusões: é inquestionável o benefício proporcionado pela medicação, no entanto, alguns aspectos parecem obscuros, como o benefício em relação a outros quimioterápicos e o melhor intervalo de tempo entre o tratamento cirúrgico e a introdução do esquema terapêutico associado à radioterapia.

Análise de contraturas capsulares em pacientes submetidas à reconstrução mamária com próteses

Introdução: o tratamento oncoplástico do câncer de mama inclui não apenas a remoção do tumor, como
também a forma, a simetria e a reconstrução do contorno mamário, visando à melhoria da qualidade de
vida. Merece destaque o uso de próteses mamárias. Objetivo: avaliar os principais fatores relacionados à
contratura capsular em pacientes portadoras de próteses mamárias. Métodos: estudo retrospectivo de
pacientes submetidas à reconstrução imediata com colocação de próteses, com e sem radioterapia
adjuvante. Resultados: foram analisadas 37 pacientes, com idade média de 41 anos. A maioria foi
acometida por carcinoma ductal infiltrante (83,8%), em estádios II e III (68,3%). Setenta e oito por cento
(78,4%) das pacientes foram submetidas à radioterapia com o implante. O tempo de seguimento médio
foi de 73 meses, observando-se recorrência a distância ou óbito em 27% (10) das pacientes. Dezessete
(49,5%) pacientes desenvolveram contratura capsular, sendo a radioterapia sobre a prótese o principal
fator associado (χ2 = 0,004). Conclusão: a radioterapia associada à reconstrução mamária com prótese
relaciona-se à elevação da taxa de contratura capsular; porém, a reconstrução imediata com prótese deve
ser considerada, visando a combinar, em um único procedimento, a melhoria da qualidade de vida e a manutenção
dos princípios oncológicos.

Câncer de via aérea inferior na Amazônia: uma análise epidemiológica entre os municípios do Estado do Pará – avaliação dos últimos dez anos

Objetivo: avaliar os dados do Departamento de Informática do SUS no Pará, no período de 1998 a
2011, relativos ao câncer de vias aéreas inferiores, pela sua alta incidência e mortalidade. Métodos:
realizou-se um estudo epidemiológico, descritivo, observacional, quantitativo, mapeando as razões de
morbidade e mortalidade por 100 mil habitantes, tendo como descritor geral a CID-10 – C33 e C34, que
correspondem à neoplasia maligna da traqueia, dos brônquios e dos pulmões. A análise estatística foi
realizada com o programa Epi Info versão 3.5.2. Resultados: a incidência de internações no período foi,
para cada 100 mil habitantes, 2,98 homens e 1,86 mulheres. No total, houve uma incidência de 2,88
internações, e o sexo masculino apresentou a maior média em todas as idades. O teste de análise da
variância demonstrou que a associação entre a faixa etária, os municípios do Estado do Pará e a presença
de câncer de vias aéreas inferiores foi significativa. Conclusão: esse tipo de câncer é prevalente na faixa
etária de 59 a 70 anos e municípios interioranos possuem taxas maiores de câncer, provavelmente, pelo
uso de formas mais primitivas de tabaco.

Análise do perfil epidemiológico, clínico e da sobrevida global de pacientes portadores de neoplasia em estágio avançado atendidos no Hospital Universitário Evangélico de Curitiba

Introdução: o câncer corresponde à segunda principal causa de morte. O elevado número de pacientes
que irá apresentar progressão da doença, ou diagnóstico de neoplasia em estágio avançado, justifica
a importância dos cuidados paliativos. Objetivo: identificar o perfil epidemiológico, clínico e patológico
de pacientes portadores de neoplasia em estágio avançado, bem como as taxas de sobrevida global
de acordo com o tipo neoplásico. Métodos: análise retrospectiva de 30 pacientes portadores de neoplasia
em estágio avançado e atendidos no período de 2009 a 2011. Dados epidemiológicos, clínicos e
de sobrevida foram considerados. Resultados: predominaram pacientes do sexo masculino (60%),
sendo as neoplasias gastrointestinais as mais frequentes (53,3%). O tempo médio de seguimento foi de
3,4 meses. A dor foi o sintoma mais prevalente, presente em 60% dos pacientes. Nenhum paciente
referiu dores de intensidade grave. As menores taxas de sobrevida foram observadas entre os pacientes
portadores de neoplasias de cabeça e pescoço. Conclusão: o encaminhamento precoce dos pacientes
oncológicos aos cuidados paliativos e o adequado conhecimento do tratamento da dor, associados a
uma abordagem multidisciplinar, em contínua proximidade com o paciente, podem melhorar a sobrevida e a qualidade de vida desses indivíduos.

Logística e limitações para a implantação de um banco de tecidos e tumores em hospital público de pequeno/médio porte

Introdução: no período de 2007 a 2009, implantou-se o primeiro biobanco no Estado de
Minas Gerais. Objetivo: descrever o processo de implantação de um biobanco em hospital
público de médio porte sem tradição em pesquisa. Métodos: a estruturação física e tecnológica
do biobanco ocorreu em paralelo à constituição de procedimentos operacionais para uniformizar
os processos. Os materiais biológicos foram coletados segundo as exigências regulatórias
e armazenados em nitrogênio líquido e freezer a -80°C. Foram obtidas linhagens
celulares primárias dos tumores incluídos e criou-se um biobanco de macromoléculas originadas
das amostras. Resultados: encontraram-se dificuldades na implantação do biobanco e
problemas macroinstitucionais. Conclusão: é viável para o SUS manter um biobanco de
excelência em um hospital de médio porte a partir de investimentos em pesquisas e em uma
equipe multiprofissional capacitada.

Qualidade de vida em oncologia: análise dos resultados entre pacientes tratados com quimioterapia em estágio clínico avançado

Introdução: apesar dos benefícios no controle de sintomas e das taxas de sobrevida resultantes dos
diferentes tratamentos em oncologia, muitos pacientes irão apresentar prejuízo na atividade física,
social, cognitiva e psicológica em decorrência dos efeitos colaterais dos medicamentos ou pela progressão
clínica da doença, impactando negativamente em sua qualidade de vida. Objetivo: avaliar a
qualidade de vida de pacientes portadores de câncer atendidos no Hospital da Polícia Militar do Paraná
(HPMPR). Métodos: análise descritiva e transversal de 16 pacientes portadores de neoplasia em
estágio clínico avançado e em tratamento quimioterápico. Dados epidemiológicos, clínicos e patológicos
foram considerados. O protocolo EORTC QLQ 30 foi o instrumento utilizado para a avaliação da
qualidade de vida dos pacientes. Resultados: predominaram pacientes do sexo masculino em 62,5%
dos casos. Todos eram sintomáticos ao diagnóstico, sendo a dor o sintoma mais prevalente e presente
em 30% dos pacientes. Neoplasias do trato gastrointestinal foram detectadas em 37,5% dos casos. Em
relação ao performance status, Ecog 1 e ASA 1 foram detectados com frequências de 50% e 43,8%,
respectivamente. Na escala funcional, os itens função física, desempenho de papel e função social
foram os mais afetados na avaliação da qualidade de vida. Fadiga e perda do apetite foram o sinal e o
sintoma mais frequentes. A medida global de qualidade de vida obteve índices elevados, sendo que
50% dos pacientes a classificaram como ótima. Conclusão: o atendimento oncológico multidisciplinar
e contínuo do paciente permite aprimorar o controle de sintomas, resultando em níveis mais elevados
de qualidade de vida, com impacto positivo na adesão do paciente ao tratamento, na sua evolução e,
possivelmente, na sobrevida.

Rápido desenvolvimento de metástases hepáticas em paciente com adenocarcinoma de pâncreas

O adenocarcinoma pancreático é um câncer com desenvolvimento agressivo, e pouco se sabe a
respeito da velocidade do desenvolvimento de metástases hepáticas. É apresentado o caso de um
paciente portador de adenocarcinoma pancreático que não aceitou a proposta de tratamento cirúrgico
e desenvolveu rapidamente metástases hepáticas no seguimento com exame de imagem. O relato
sugere a necessidade imperativa de tratamento sistêmico efetivo para a doença; do contrário, mesmo
os pacientes com adenocarcinoma pancreático sem aparentes metástases apresentarão mau prognóstico,
ainda que submetidos à ressecção cirúrgica.

Caso raro de lipossarcoma desdiferenciado em períneo

Os sarcomas de partes moles são tumores raros. O lipossarcoma é um dos tumores malignos de partes
moles mais comuns na vida adulta. Paciente do sexo masculino, 52 anos, com queixa de dor em região
perineal, com constipação intestinal e proctalgia acompanhada de massa em região perineal de rápido
crescimento (em torno de seis meses). Iniciada incisão via perineal na rafe mediana, com ressecção da
massa de cerca de 12 x 10 cm, com margens de aproximadamente 2 cm. Anatomopatológico com
imuno-histoquímica diagnosticou lipossarcoma desdiferenciado, sendo indicada radioterapia adjuvante
com boa tolerância pelo paciente. Os lipossarcomas originam-se de células mesenquimais primitivas.
As duas localizações mais comuns são as extremidades, particularmente membros inferiores, e o
retroperitônio. É relativamente raro o envolvimento do períneo ou espaço pararretal. A ressecção
cirúrgica do tumor primário continua a ser a principal forma de tratamento do sarcoma de partes
moles. O tratamento cirúrgico com margens negativas do sarcoma de partes moles é fator determinante
para o prognóstico, incluindo regiões de difícil abordagem como a perineal e o espaço pararretal.

Ligadura de ducto pancreático para fístula pancreática pós-duodenopancreatectomia

A duodenopancreatectomia é procedimento de escolha para tratamento de lesões localizadas em
cabeça de pâncreas e duodeno. Consiste em procedimento de alta complexidade, com altas taxas de
morbi e mortalidade. A fístula de anastomose pancreática jejunal é a principal causa de complicação
cirúrgica, resultando em necrose e deiscência da anastomose. Existem várias abordagens possíveis para
o seu tratamento. Relata-se a seguir o caso de uma paciente de 61 anos, com fístula de anastomose
jejunopancreática pós-duodenopancreatectomia por adenocarcinoma de duodeno. A paciente foi
tratada com ligadura do ducto pancreático principal, com boa evolução.

Carcinoma de células de Merkel: um caso cutâneo primário fatal com padrão imuno-histoquímico atípico

O carcinoma de células de Merkel é um tumor neuroendócrino cutâneo agressivo de alta mortalidade.
Seu polimorfismo clínico usualmente dificulta e retarda o diagnóstico. Relata-se o caso de um homem
de 62 anos, com lesão tumoral exulcerada de 2,5 cm de diâmetro no primeiro quirodáctilo esquerdo,
com evolução de seis meses e expansão nos últimos dois meses. A confirmação diagnóstica foi obtida
por meio dos estudos histopatológico e imuno-histoquímico, que revelaram carcinoma neuroendócrino.
O paciente desenvolveu síndrome paraneoplásica neurológica, evoluindo com choque séptico e óbito
após sete meses da avaliação médica inicial. O envolvimento extracutâneo foi excluído pelos exames de
imagem e achados de necrópsia, que não revelaram foco tumoral exceto o cutâneo, ratificando a
agressividade do carcinoma de células de Merkel. A dificuldade em se firmar o diagnóstico clínico, em
conformidade com a literatura, deve-se à raridade desse tumor e às diferentes formas de apresentação.