The Journal of the Brazilian Society of Cancerology

Incidência de tromboembolismo venoso em pacientes com neoplasia maligna

A incidência de tromboembolismo venoso (TEV) em pacientes com câncer é maior que na população
geral, sendo uma das maiores causa de morte nesses pacientes. Assim, o câncer vem sendo
considerado como um fator de risco independente para TEV. Esse risco parece variar de acordo
com diversos fatores, como o local do câncer, o tipo histológico e o estágio da doença. Diante disso,
neste trabalho foi realizado uma revisão sistemática sobre o tema, apresentando como critério
de exclusão estudos em que os pacientes tinham sofrido procedimento cirúrgico < 2 semanas. Para avaliar a qualidade dos artigos foi feita uma avaliação através da escala de Newcastle- -Ottawa para estudos coortes. Foram encontrados 786 artigos, dos quais foram selecionados nove artigos, sendo cinco prospectivos e quatro retrospectivos. A incidência acumulativa de TEV em 1 ano ficou em cerca de 7,0% em pacientes oncológicos nos trabalhos revisados. Pacientes que apresentaram maior risco de desenvolver TEV foram tumores gastrintestinais, estágio avançado, quimioterapia. Verificou-se, ainda, a relação da diminuição da hemoglobina e a elevação de plaquetas e Proteína C-reativa com o TEV, além da Contagem de Células Tumorais ≥ 1. Os resultados mostraram que pacientes com câncer apresentam um risco elevado de desenvolver TEV, demonstrando uma taxa de incidência maior que na população geral. A incidência de TEV deve estar subestimada nos estudos, pois os eventos assintomáticos não foram analisados. O tromboembolismo venoso pode ser um possível indicador de prognóstico ruim já que parece ocorrer mais em estágios avançados da doença. Foi verificado uma associação de quimioterápicos específicos, que deve ser analisada com cuidado, sendo necessária uma melhor investigação sobre essa associação através de novos estudos. As características encontradas neste estudo podem ajudar a avaliar e a direcionar o uso de tromboprofilaxia nos pacientes com neoplasia maligna.

Utilização da oxigenoterapia hiperbárica em osteorradionecrose de mandíbula em pacientes tratados de carcinoma epidermoide de boca: revisão de literatura

Neste estudo buscamos realizar um levantamento da literatura, abrangendo a osteorradionecrose
(ORN) decorrente do tratamento oncológico para o carcinoma epidermoide de boca,
com a utilização da oxigenoterapia hiperbárica (OTH) e descrever seus efeitos adversos,
indicações e contraindicações nos pacientes com ORN de mandíbula e com isso difundir
o conhecimento aos cirurgiões dentistas sobre as possibilidades do uso da OTH nesses
pacientes. A ORN é um dos efeitos tardios mais sérios e indesejáveis que podem ocorrer
e atinge com grande frequência o osso da mandíbula. Assim, para poder conter ou mesmo
estabilizar, nesses casos, os efeitos adversos da ORN, uma das evidências mais interessantes
foi a descoberta da OTH. A revisão de literatura permite dividir em quatro as apresentações
clínicas fundamentais para o tratamento da ORN de mandíbula: O primeiro grupo refere-se
à OTH pré-operatória; o segundo grupo ao emprego de OTH pós-operatória; o terceiro grupo
à não realização de cirurgia para ressecção da ORN e uso exclusivo da terapêutica com
OTH e o quarto grupo em que não é indicada cirurgia e nem tratamento com OTH. Este
estudo revelou a necessidade de desenvolvimento de mais pesquisas e ensaios clínicos sobre o
câncer de boca e a OTH. Todavia, pretendemos com este trabalho contribuir para o melhor
entendimento dos cirurgiões dentistas e médicos sobre as possibilidades de usos da OTH em
pacientes com ORN de mandíbula e portadores do carcinoma epidermoide de boca, em cada
um dos grupos mencionados.

Carcinoma de células de Merkel. Relato de 2 casos e revisão da literatura

O carcinoma de células de Merkel (CCM) é uma neoplasia cutânea rara, agressiva. que
apresenta alta taxa de recorrência local e comprometimento linfonodal bem como metastases
à distância. É mais comum em caucasianos do sexo masculino. Têm relação com imunodeficiência,
exposição solar e infeção viral (merkel poliomavirus vírus). A grande maioria
dos casos se dá em face e membros superiores (27%/22% respectivamente). O tratamento
primário é cirúrgico com excisão ampla e margens negativas, o que devido à localização e a
extensão da doença pode ser desafiadora. O tratamento dos gânglios linfáticos permanece em
discussão sendo encorajado o uso do linfonodo sentinela (LS). A radioterapia pode ser útil
para aumento do controle local. A quimioterapia tem atividade clínica em pacientes metastáticos,
porém ainda sem uma clara indicação no cenário adjuvante. Não há na literatura
séries de casos do uso de RT/QT neoadjuvante somente relatos de casos. Esse trabalho tem
com objetivo o relato de 2 casos distintos e revisão da literatura.

Terapia farmacológica no tratamento adjuvante do câncer de mama

O tratamento do câncer de mama pode ser realizado por diversas abordagens, entre cirurgia,
radioterapia, quimioterapia, terapia hormonal neoadjuvante e adjuvante. O tratamento hormonal
adjuvante desta neoplasia baseia-se na identificação imunohistoquímica positiva para receptores
hormonais de estrogênio e progesterona. No tratamento farmacológico para mulheres na pré-
-menopausa o uso do tamoxifeno consiste na terapêutica padrão. Em mulheres na menopausa,
o tamoxifeno continua sendo utilizado, entretanto os inibidores da aromatase têm demonstrado
diversas formas de uso combinados ou não com o tamoxifeno. Este artigo se propõe promover
uma revisão sobre os fármacos utilizados na terapia hormonal adjuvante em câncer de mama.

Qualidade de Vida (QV) e Sobrevida (SV) em Câncer Ginecológico

A abordagem do câncer ginecológico alicerçada nos princípios bioéticos não leva em conta
apenas os resultados ao término do tratamento e sobrevidas, mas, sobretudo abrange a repercussão
física e mental, que pesam na qualidade de vida (QV) dessas pacientes. A morbidade
das possíveis sequelas morfo-funcionais subsequentes ao tratamento ou da própria evolução da
doença são importantes e precisam ser bem avaliadas, através de instrumentos de aferição, que
possam fornecer informações significativas, para implementar as medidas de prevenção e evitar
iatrogenias.

Tratamento de metástases hepáticas do câncer colorretal: revisão da literatura

As indicações de ressecção das metástases hepáticas têm mudado consideravelmente e estão
sendo ampliadas. O tratamento da doença hepática pode ser feito através da ressecção cirúrgica,
ablação local, quimioembolização, quimioterapia intra-arterial e radioterapia; apesar
dos avanços dos últimos anos a opção potencialmente curativa continua sendo a ressecção cirúrgica
(sobrevida livre de doença em cinco anos de 30% e global de 58%). A melhor terapia
após a retirada das lesões hepáticas ainda não foi estabelecida, o papel da quimioterapia
intra-arterial associado a terapia sistêmica ainda não esta claro. Considera-se aceitável o
tratamento com um esquema contendo a oxaliplatina por seis meses, e um curso mais curto de
quimioterapia ou somente a observação para pacientes que receberam terapia neoadjuvante.

Mapeamento axilar reverso: estudo de nova técnica para prevenção de linfedema em pacientes com câncer de mama. Relato de caso

Introdução: A biópsia do linfonodo sentinela (BLS), apesar de minimizar as complicações
decorrentes do esvaziamento axilar, não é isenta de riscos. Com o objetivo de reduzir a morbidade
relacionada à BLS apresentamos aqui um caso de Mapeamento Axilar Reverso. Caso: Paciente
feminina, 57 anos, com carcinoma ductal in situ associado à Doença de Paget na mama direita
e com mamografia evidenciado microcalcificações extensas e de distribuição segmentar. Realizou
tratamento cirúrgico oncológico com marcação do linfonodo sentinela com injeção de tecnécio na
mama em região periareolar e mapeamento axilar reverso mediante injeção de azul patente em
face medial do terço proximal do braço direito. Conclusão: O mapeamento axilar reverso é
técnica de fácil aprendizagem e reprodutibilidade e que pode minimizar ainda mais as taxas de
linfedema no tratamento do câncer de mama.

Paraganglioma retroperitoneal simulando feocromocitoma

Case report: A 32-years old female with abdominal right flank mass, high arterial
blood pressure, flushing, pain and diarrhea. She underwent previous unsuccessful
attempt of resection of retroperitoneal tumor. Serum norepinephrine elevated.
CT-scan showed retroperitoneal mass and the angio-MRI showed compression
of inferior vena cava. Octreoscan was positive. Medical treatment showed no response.
Surgical resection was performed after the preoperative medication with
alpha1-bloc. Histopathologic analysis confirmed paraganglioma with uncertain
standard of malignancy. Paragangliomas are rare tumors usually affecting
children and young adults. The diagnosis of malignancy is difficult, ranging on
15-35%. The CT scan common finding is a large heterogeneous mass. Angio-
-MRI may helps to determine great vessels invasion. Catecholamine synthesis
is a feature of this tumor and may cause symptoms. Adequate preoperative
preparation is essential. The clinical and radiological findings may suggest the
diagnosis and the first line therapy is surgery, even if it involves large resections.

Carcinoma de células escamosas de base de pênis: relato de caso e revisão do estado atual do tratamento

Introdução: O câncer de pênis é uma doença rara, porém está associada com
elevadas taxas de morbidade e mortalidade. O tratamento atualmente é multimodal
e interdisciplinar, levando-se em conta o caráter potencialmente mutilante
da cirurgia e seu impacto na qualidade de vida do paciente.
Relato de Caso: Apresentamos um caso de um paciente com carcinoma de
células escamosas de base de pênis localmente avançado com acometimento da
bexiga, pube, escroto, períneo e esfíncter anal. O paciente apresentava um difícil
manejo da dor e foi excluído de tratamento radioterápico neoadjuvante em função
do quadro infeccioso local. Foi então submetido à cirurgia radical extensa,
incluindo emasculação, cistoprostatectomia, amputação abdominoperineal do
reto, ressecção do pube, linfadenectomia pélvica e retalho miocutâneo.
Discussão: O tratamento do câncer de pênis depende da sua localização e
estadiamento. No caso dos tumores localmente avançados, a cirurgia permanece
como base do tratamento, porém a terapia multimodal incluindo quimioterapia
sistêmica e radioterapia deve ser fortemente considerada. A evolução da terapia
adjuvante suscitou o desenvolvimento de novos estudos quanto à tentativa de um
tratamento local mais conservador. O papel da linfadenectomia inguinal é bem
estabelecido por seu valor prognóstico. Entretanto, por se tratar de um procedimento
com significativa morbidade local, ainda é discutido em que momento
deve ser realizada, contexto no qual se insere a estratégia do linfonodo sentinela.
Conclusão: Por se tratar de cirurgia com importante impacto psicológico e na
qualidade de vida do paciente, muito se tem investido no desenvolvimento de
terapias adjuvantes para o tratamento do câncer de pênis. Entretanto, apesar dos
avanços na abordagem multimodal, por vezes ainda é necessária uma intervenção
cirúrgica agressiva com interação de múltiplas disciplinas para otimização
do tratamento.

Câncer de traqueia localizado em carina: relato de caso

O câncer de traqueia corresponde a 0,2% das neoplasias malignas do trato respiratório e apenas
0,02-0,04% de todos os tumores malignos. A localização mais frequente é no terço inferior da
traqueia. O acometimento da carina é raro e denota pior prognóstico. Relato de caso: JRG,
masculino, 47 anos, ex-tabagista. Queixa de súbita dispneia, acompanhada de tosse e episódios
de síncope. Realizada broncoscopia que evidenciou lesão exofítica traqueal justaposta à carina.
As biópsias destas lesões apresentaram carcinoma espinocelular “in situ”. Optou-se por tratamento
quimioterápico neoadjuvante e posteriormente toracotomia póstero-lateral direita para
exérese de tumor de carina traqueal e reconstrução com anastomose dos brônquio-fontes na traqueia.
A última broncoscopia não apresentou sinais de recidiva. Conclusão: O conhecimento
dos sinais de alerta é fundamental para o diagnóstico precoce, que se faz necessário para uma
boa resposta ao tratamento, influenciando diretamente na sobrevida e prognóstico desses pacientes.
Palavras-chave: Câncer de traqueia, carina, reconstrução traqueal.