Do ultrassom à cirurgia robótica: um guia prático para a abordagem oncológica do mediastino
O mediastino pode ser sítio de diversas doenças. Entre elas, o câncer de pulmão e os tumores do mediastino são as indicações mais frequentes de biópsia ou de tratamento cirúrgico. Nas últimas duas décadas, o avanço das técnicas endoscópicas e videoassistidas ampliou o leque de opções de abordagem diagnóstica e terapêutica. A avaliação mediastinal por métodos não invasivos inclui a tomografia computadorizada (TC), a ressonância nuclear magnética (RNM) e, eventualmente, a tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT). A análise radiológica, em conjunto com a clínica, e a pertinente análise laboratorial determinam, quando necessário, o método invasivo a ser empregado. Os métodos minimamente invasivos incluem mediastinoscopia, punção transtorácica guiada por TC, cirurgia videoassistida (VATS), robótica (RVATS) e broncoscopia com ultrassom (EBUS). A utilização da VATS no mediastino obedece aos princípios preconizados para as ressecções pulmonares. A RVATS, de uso mais recente, permite visualização tridimensional das estruturas do mediastino e manuseio com instrumentos multiarticulados, que imitam o punho do cirurgião. A EBUS é um procedimento endoscópico útil à investigação diagnóstica das doenças mediastinais, com baixíssimos índices de complicações descritos. Cada um dos métodos apresentados possui seu papel no diagnóstico e no tratamento das lesões do mediastino. A escolha final dependerá da avaliação individualizada de cada paciente, da disponibilidade dos equipamentos necessários e da experiência do médico com cada um deles. Este artigo apresenta um guia prático para o uso racional dessas técnicas.
Mixofibrossarcoma cérvico-torácico
Introdução: o mixofibrossarcoma (MFS) é um sarcoma de partes moles, mais comum em membros inferiores e raro na cabeça e no pescoço. A excisão completa com margens amplas é o tratamento preconizado. Objetivo: relatar um caso de MFS acometendo pescoço e tórax, tratado por cirurgia e radioterapia adjuvante. Relato de caso: paciente do sexo feminino, 48 anos de idade, apresentou-se com falta de ar, tosse e inchaço no pescoço, associados a dor em membro superior esquerdo, disfagia e odinofagia, com 7 meses de evolução, tendo sido feita traqueostomia após admissão no hospital. A biópsia incisional foi sugestiva de bócio coloide, e a paciente foi encaminhada para cirurgia com hipótese diagnóstica de bócio mergulhante. Foi feita excisão da lesão, que ocupava espaço retrofaríngeo e mediastino posterior, medindo aproximadamente 30 cm. A paciente recebeu alta após 7 dias. O laudo histopatológico demonstrou sarcoma pleomórfico de baixo grau e ressecção marginal, com diagnóstico imuno-histoquímico de MFS de baixo grau. Foi realizada radioterapia adjuvante, com evolução livre de doença após 14 meses. Conclusão: relata-se um caso de paciente com MFS cérvico-torácico, tratada com cirurgia e radioterapia adjuvante. Ressalta-se a importância do diagnóstico diferencial com bócio mergulhante e da realização de uma primeira ressecção com margens livres e amplas.
Como os atuais recursos de diagnóstico e acompanhamento cardiovascular tem contribuído para a mudança da história natural da cardiotoxicidade aos quimioterápicos
Como os atuais recursos de diagnóstico e acompanhamento cardiovascular tem contribuído para a mudança da história natural da cardiotoxicidade aos quimioterápicos
Neoplasia de sigmoide e diverticulite sincrônicas em uma hérnia inguinal estrangulada
Justificativa e objetivos: a hérnia inguinal estrangulada é uma das emergências cirúrgicas mais comuns no mundo. O conteúdo do saco herniário limita-se à presença de omento ou de alças intestinais de delgado. Entretanto, estruturas anatômicas menos comuns podem ser encontradas dentro do saco herniário, como neoplasia e diverticulite de sigmoide, raramente ocorrendo de forma sincrônica. Este estudo relata um caso de hérnia inguinal esquerda estrangulada, apresentando, dentro do saco herniário, neoplasia de sigmoide, simultaneamente à doença diverticular dos cólons com diverticulite. Relato de caso: E.N., 76 anos de idade, procurou o serviço de emergência com dor e abaulamento em região inguinal à esquerda há 1 dia, sendo diagnosticada hérnia inguinal estrangulada. Durante a inguinotomia, foi evidenciada presença de cólon sigmoide em saco herniário, apresentando lesão tumoral com isquemia e bloqueio por omento, além de doença diverticular com sinais de diverticulite. Optou-se por ressecção da lesão em sigmoide em bloco por laparotomia e correção da hérnia, pela técnica de Shouldice. O exame anatomopatológico evidenciou adenocarcinoma tubular moderadamente diferenciado, estadiado como pT4;pN0;pMx e classificado, de acordo com Astler-Coller, como B-2 e Dukes B, sem invasão vascular ou linfática. Conclusão: hérnias contendo neoplasia são raras, e a associação de sintomas compatíveis com quadro de neoplasia e diverticulite deve ser questionada em casos de estrangulamento. Não existe ainda propedêutica ou tratamento adequado, sendo a suspeita clínica essencial para o diagnóstico preciso.
Paracoccidioidomicose como diagnóstico diferencial de câncer de pênis
A infecção causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis afeta predominantemente adultos homens, em especial trabalhadores rurais. As manifestações clínicas caracterizam-se por lesões polimórficas que podem acometer qualquer órgão, sendo o pulmão, as mucosas e a pele os sítios mais frequentes. O trato geniturinário é o local mais raro de acometimento. Descreve-se neste artigo um caso de paracoccidioidomicose de glande e prepúcio peniano. Ao considerar a semelhança entre os achados clínicos da infecção por esse fungo e os de neoplasias penianas, conclui-se que paracoccidioidomicose deve ser lembrada como diagnóstico diferencial em patologias que envolvam a genitália externa masculina.
Síndrome do câncer gástrico difuso hereditário: abordagem cirúrgica radical laparoscópica associada à mutação rara do gene CDH1
O câncer gástrico difuso hereditário (CGDH) responde por 1 a 3% dos cânceres gástricos. Essa síndrome se deve a uma mutação herdada do gene CDH1 no cromossomo 16q22.1. O gene CDH1 codifica a proteína E-caderina, que atua na manutenção da adesão intercelular, resultando em potencial menor de metástase e invasividade. O diagnóstico precoce da CGDH é muito importante, pois os pacientes portadores da mutação do CDH1 apresentam células invasivas, pouco diferenciadas e em anel de sinete. O principal tratamento é a cirurgia radical, e a laparoscopia surge como técnica alternativa, com menos comorbidades e resultados oncológicos semelhantes aos da abordagem convencional. Este artigo descreve um caso raro de CGDH com mutação do CDH1. O diagnóstico precoce torna possível a abordagem de cirurgia laparoscópica.
Tricoleucemia infantil: um relato de caso em um hospital filantrópico de Salvador, Bahia
Justificativa: a tricoleucemia é uma doença rara, caracteriza-se pela presença de uma neoplasia de células B maduras, possui imunofenótipo característico e é resistente à terapia convencional. O fármaco com melhor resposta ao tratamento é a cladribina, que atua na síntese do DNA. O quadro clínico inclui esplenomegalia, pancitopenia e linfocitose. Objetivos: descrever caso raro de tricoleucemia variante em paciente adolescente, incluindo evolução e resposta terapêutica à doença, avaliação do tratamento com a cladribina e possíveis reações. Método: relato de caso apresentado por meio de dados descritivos obtidos do prontuário de um paciente e de artigos científicos que abordam a patologia. Conclusão: ainda não é possível concluir que a cladribina possa ser utilizada futuramente como tratamento para remissão da tricoleucemia variante. Todavia, há outras possibilidades para novos tratamentos, como o uso de anticorpos monoclonais e o transplante de medula óssea.
Melanoma maligno em teratoma maduro de ovário: relato de caso e revisão da literatura
Introdução: teratoma maduro consiste em um tumor benigno de células germinativas, podendo dele surgir vários tumores malignos, embora essa transformação seja rara. O melanoma em teratoma maduro de ovário é extremamente incomum, existindo somente 36 casos relatados até o momento. Relato de caso: paciente do sexo feminino, 37 anos, submetida à ooforectomia direita por cisto complexo. O exame anatomopatológi- co diagnosticou “teratoma com carcinoma indiferenciado” e o imuno-histoquímico revelou um melanoma maligno em teratoma. A paciente não foi submetida a tratamento adjuvante, e 3 anos após o diagnóstico encontra-se sem evidência de recidiva. Conclusão: a ocorrência de melanoma em teratoma maduro é extremamente rara e está associada a um pior prognóstico. Os sinais e sintomas, bem como o exame físico, são inespecíficos, e o diagnóstico geralmente dá-se como achado ocasional em exame anatomopatológico. A ressecção cirúrgica é a base do tratamento.