The Journal of the Brazilian Society of Cancerology

Revista 45

Caros colegas,
A Revista da Sociedade Brasileira de Cancerologia (RSBC) é uma publicação oficial da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), editada trimestralmente, distribuída gratuitamente no âmbito nacional para sócios da SBC, universidades federais e estaduais, principais bibliotecas, hospitais de câncer, órgãos governamentais e não governamentais de saúde, secretarias de estados e principais secretarias municipais de saúde, discutindo os temas sob os diversos ângulos do câncer, as novas técnicas e as descobertas mais atuais no intuito de aprimorar a medicina, ocupando um importante lugar na reflexão sobre a doença e a profissão.
Nesta edição estão disponíveis artigos de revisão, atualização e relatos de casos com elevado teor científco, assim como artigos originais, cuja periodicidade torna-se imprescindível em nosso processo de indexação no LILACS e SCIELO.
E com grande satisfação a Revista da Sociedade Brasileira de Cancerologia agradece a sua equipe, ao conceituado conselho editorial, médicos autores e coautores, leitores e parceiros pela acolhida e colaboração, os quais foram fundamentais para podermos oferecer aos que atuam na área da cancerologia uma publicação séria, relevante e condizente com a qualidade de nossa profissão neste momento histórico de evolução científi ca que estamos presenciando no nosso dia a dia.

Boa leitura!

Ricardo César Pinto Antunes
Editor Chefe

Articles

Cirurgia robótica em tumores do mediastino anterior. Descrição da técnica e relato dos primeiros casos no Brasil

A cirurgia torácica vídeo assistida (CTVA) é considerada procedimento de escolha em diversas patologias do tórax. A CTVA em oncologia vem se popularizando através do avanço tecnológico dos instrumentos cirúrgicos e diagnóstico por imagem; entretanto, ainda existem controvérsias na sua indicação em grandes ressecções oncológicas. Com o intuito de evitar a toracotomia ou esternotomia completa, a segurança e eficácia da CTVA no tratamento de neoplasias mediastinais em estágios iniciais foram comprovadas. Contudo, existem diversos tipos de abordagem minimamente invasivas utilizadas para a ressecção curativa de tumores localizados no mediastino anterior; dentre elas: a CTVA, a esternotomia parcial e a abordagem transcervical podem ser consideradas. A CTVA robótica vem sendo universalmente aceita nesses casos; entretanto, até o presente momento não há descrição da técnica na América Latina. Este artigo descreve a técnica de ressecção por toracoscopia esquerda e auxílio robótico de tumores do mediastino anterior em dois pacientes selecionados.

Histórico de estudos clínicos do Centro de pesquisa do Hospital Erasto Gaertner

A oncologia é uma das áreas da medicina mais promissora para pesquisadores e para indústrias farmacêuticas que buscam medicamentos cada vez mais específicos para promover a cura e melhorar a expectativa de vida dos pacientes oncológicos. Este estudo foi realizado no Centro de Pesquisa do Hospital Erasto Gaertner com o objetivo de caracterizá-lo e verificar sua contribuição no cenário terapêutico atual. Foi realizado um levantamento do status atual de cada estudo clínico, das equipes que o conduziram, patologia mais frequente, número de pacientes tratados, média de centros por estudo e número de propostas recebidas. Foram avaliados também quais estudos tiveram seus produtos em investigação aprovados para comercialização. Em seus dez anos de história, o CPHEG conduziu 85 estudos. Desses, 28 estão em atividade, e a patologia mais tratada foi o câncer de mama. As equipes de cada estudo são compostas em média por 16 integrantes dentre investigadores, coordenadoras e estagiários. Até o momento 263 pacientes assinaram o termo de consentimento livre esclarecido e 182 receberam os tratamentos propostos. O centro participou diretamente da aprovação de cinco medicamentos utilizados em oncologia, mostrando a sua participação nas tendências terapêuticas atuais.

Biópsia guiada por FDG-PET/CT em pacientes oncológicos é um procedimento seguro e de alta acurácia

Objetivo: Achados positivos de FDG-PET/CT devem ser confirmados por biópsia sempre que possível quando implicarem em instituição da terapia oncológica. Nesse estudo avaliamos a viabilidade, segurança e eficácia da biópsia percutânea guiada por FDG-PET/ CT para confirmação histológica de lesões de FDG-PET/CT positivas. Métodos: Avaliamos prospectivamente 17 pacientes submetidos a 18 biópsias guiada por FDG-PET/CT. Foram avaliados a viabilidade técnica e taxas de sucesso clínico da biópsia guiada por FDG-PET/CT. Resultados: Pacientes portadores de linfoma, melanoma, câncer de mama, colon, de pulmão não-pequenas células e primário de origem oculta com lesões suspeitas à FDG-PET/CT foram admitidos para a biópsia guiada por FDG-PET/CT. Obtivemos sucesso na aquisição de amostras de tecido representativas em todos os pacientes. Não houve complicações ou efeitos adversos. Foi obtida confirmação histológica de câncer em 14/18 lesões e em 4/18 o anátomopatológico demonstrou necrose e células inflamatórias. Estes quatro pacientes não apresentaram recidiva de doença no período de acompanhamento médio de seis meses. Conclusão: A biópsia guiada FDG-PET/CT é um procedimento viável e seguro, podendo resultar na otimização dos recursos diagnósticos. Além disso, lesões metabólicas FDG-PET/CT-positivas sem correlação com alterações anatômicas podem ser confirmadas por intervenções percutâneas.

Prostatectomia radical robô-assistida: técnica cirúrgica contemporânea

Objetivo: apresentar a técnica cirúrgica da prostatectomia radical robô-assistida passo-a- -passo de forma detalhada. Métodos: a prostatectomia radical laparoscópica assistida por robô ganhou grande aceitação de urologistas de todo o mundo nos últimos anos. Em nosso meio, esta tecnologia foi implementada em Maio de 2008, seguindo as diretrizes de centros de grande volume cirúrgico nos Estados Unidos, tendo-se observado um grande aumento no número de indicações recentemente. Resultados: desde Maio de 2008 mais de 260 prostatectomias radicais robóticas foram realizadas em nossa instituição. Os aspectos técnicos da prostatectomia radical robô-assistida estão detalhados de maneira passo-a-passo, juntamente com representação gráfica dos pontos-chave do procedimento. Conclusão: os detalhes técnicos da prostatectomia radical robótica descritos permitem o claro entendimento e visualização pormenorizada de cada passo operatório através da utilização de figuras ilustrativas.

Randomized, prospective study comparing the diagnostic accuracy of open biopsy with percutaneous core needle biopsy without image guidance for bone lesions

Justificativa e Objetivo: a biópsia é peça fundamental no manejo de tumores ósseos. Já se demonstrou isoladamente a acurácia de diferentes métodos de biópsia óssea, mas poucos estudos compararam diretamente os métodos. O objetivo deste trabalho é comparar a acurácia e segurança entre biópsias ósseas percutâneas e convencionais (abertas) sem o uso de métodos de imagem em tempo real. Avaliamos também a acurácia da suspeita clínica pré-biópsia. Método: durante 8 meses, 40 pacientes com suspeita de tumores ósseos e elegíveis para ambos os métodos foram prospectivamente randomizados para serem submetidos a biópsias ósseas abertas ou percutâneas na proporção de 1:1. Os resultados foram avaliados segundo acurácia do método, sensibilidade, especificidade, complicações e necessidade de re-biópsia para definição de conduta. Foi também comparada a suspeita clínica pré-biópsia com o laudo patológico final. Resultados: média de idade 43 anos. Cinco tumores incidentais e 35 sintomáticos. Apenas 3 biópsias inconclusivas, uma no grupo percutânea e duas no grupo aberta. Uma única complicação grau I (sangramento) no grupo percutâneo. Em 58% dos casos o cirurgião acertou o diagnóstico pré-biópsia. Conclusões: em nosso meio, para pacientes selecionados, a utilização de biópsia óssea percutânea ou aberta tem igual acurácia e índice de complicações.

Manejo terapêutico curativo do carcinoma de vesícula biliar: revisão da literatura

Carcinoma da vesícula biliar (CVB) é uma doença relativamente rara com alta frequência de doença avançada irressecável na apresentação inicial, visão niilista da sobrevida mesmo apos ressecção cirúrgica radical e concomitantemente falta de terapêutica efetiva adjuvante consolidada o que tem contribuído para ausência de tratamento padronizado. Esta neoplasia apresenta comportamento agressivo e uma ampla gama de mecanismos de disseminação precoce por invasão linfática, hematogênica, peritonial e vásculo-neural. Macroscopicamente, CVB se dissemina pelo leito hepático ou para hilo através da cápsula de Glisson. Invasão direta do fígado e dada pela proximidade das veias que drenam a fossa vesicular junto ao segmento IV (para a veia hepática média) ou veias que acompanham os ductos extra-hepáticos junto ao fígado. Disseminação linfática ocorre precocemente através dos linfonodos peri-hilares, posteriormente ao longo da artéria hepática comum e finalmente disseminação para os linfonodos para-aórticos. Metástases hematogênicas ocorrem mais frequentemente para fígado e pulmões. Disseminação peritonial é muito comum principalmente nos casos avançados e pode envolver fígado, ductos biliares, duodeno, pâncreas, cólon ou estômago e não raramente pode se manifestar como carcinomatose disseminada. Disseminação vásculo-neural ocorre ao longo do ligamento hepatoduodenal. Os sintomas mais comuns são dor abdominal, cólica biliar, vômitos, perda de peso e icterícia tanto por invasão direta como por compressão por acometimento linfonodal da via biliar. Em virtude da raridade do CVB, em muitos doentes existe a presunção de doença benigna e consequentemente seguem operações que podem violar os planos do tumor complicando futuras intenções de uma ressecção oncológica. Além disso, a visão niilista dos cirurgiões evita que em muitos casos sejam oferecidas cirurgias mais radicais objetivando ressecção R0. Para estadios iniciais (Tis or T1), colecistectomia simples permanece sendo o suficiente. Para estádios mais avançados como T2 ou T3 algum tipo de hepatectomia parece ser mais adequadamente indicado. Para estadio T4, alguns poucos autores têm raramente indicado em casos ultrasselecionados ressecção multivisceral. No entanto, somente ressecções radicais podem oferecer a cura, haja vista baixos índices de resposta ao tratamento sistêmico e curta sobrevida. O presente artigo descreve o estado da arte do tratamento curativo do CVB.

Tumor neuroendócrino de pâncreas (glucagonoma) em paciente jovem assintomática: revisão de literatura e relato de caso

Os tumores de pâncreas podem ser classificados em endócrinos, geralmente de caráter benigno e exócrinos, como o adenocarcinoma ductal, em sua quase totalidade malignos. Entre os neuroendócrinos se encontra o glucagonoma, tumor que acomete pacientes de idade avançada e geralmente possui mais de 5 cm de tamanho, causando uma síndrome característica (diabetes mellitus, eritema necrolítico migratório, queilite angular, estomatite, anemia normocítica normocrômica). Uma paciente de 22 anos, procurou atendimento médico para investigação de uma possível infecção urinária. Ao realizar ecografia abdominal total foi encontrada acidentalmente uma massa hiperecogênica entre rim esquerdo e baço, posteriormente confirmada pela tomografia computadorizada e ressonância magnética como sendo em cauda de pâncreas. Foi realizada laparotomia com pancreatectomia distal e retirada de peça cirúrgica de aproximadamente 5 cm, posteriormente enviada para Imunohistoquímica, que mostrou baixa positividade para glucagon. O caso atenta para a apresentação atípica do tumor em questão e a resolubilidade do caso quando detectado precocemente, com a paciente ainda assintomática e sem dissemiação da doença.

Sarcoma granulocítico na gravidez: relato de caso

Sarcoma granulocítico é um tumor localizado, composto de células imaturas da série granulocitica, podendo ocorrer em qualquer parte do corpo, visto infrequentemente em pacientes com leucemia mieloide aguda e raramente visto sem leucemia. Relatamos um caso em que a manifestação foi em couro cabeludo de paciente no inicio do segundo trimestre de gestação, sem sinais de leucemia. Discutimos a maior dificuldade na condução do tratamento nesta condição e consequentemente pior prognóstico.